Acessibilidade do transporte público em Portugal e no mundo

O tema do uso do transporte público está atual no mundo inteiro. A maioria das grandes cidades enfrenta o problema de tráfego grave ou da poluição do ar. Por isso, o transporte público ganha cada vez mais notoriedade. As autoridades locais tentam, por maneiras diferentes, incentivar os cidadãos para usarem meios de transporte coletivo: implementam restrições quanto à utilização de automóveis no interior das cidades e aumentam os preços de estacionamento.

O que impede as pessoas de utilizarem mais o transporte público?
Um transporte público atraente para o cidadão não deve ser somente rápido, frequente e com frota nova e segura, mas também barato, ou seja, acessível a todos os habitantes. Em março de 2020 o Luxemburgo tornou-se o primeiro país do mundo no território do qual todos os transportes coletivos passaram a ser gratuitos tanto para os cidadãos como os turistas. Uma política semelhante pode ser encontrada, em menor escala, em Tallinn na Estónia ou em Olympia nos EUA.

O preço de bilhete simples pode incentivar ou desincentivar passageiros potenciais para usarem o transporte público. Eis o motivo por que uma equipe de analíticos Picodi decidiu examinar os preços de bilhetes do transporte público nas maiores cidades do mundo e compará-los com o salário médio para ver a sua acessibilidade.

Tarifas ao redor do mundo

Na análise tomámos em conta os preços de passes mensais que proporcionam deslocações ilimitadas em todos os meios de transporte público disponíveis. Depois de contarmos todos os preços em euro verificou-se que Londres é a cidade com o transporte público mais caro (237€), seguida por Dublin (195€) e Nova Iorque (116€). No entanto, quando os resultados são comparados com o salário médio mensal, Nova Iorque muda de lugar para o fim da tabela e está na 33ª posição entre as 39 cidades incluídas na pesquisa. Isto significa que um nova-iorquino pode comprar um passe de autocarro e metro somente por 2,4% da sua remuneração líquida.

No caso de Portugal, Lisboa não se coloca em nenhum dos extremos da tabela, ocupando 23ª posição. O passe mensal em Lisboa custa 30€ e vale 3,27% do salário médio que é de 932,55€ (dados de março de 2020, Numbeo.com). Em comparação, os habitantes de São Paulo, Amsterdã ou Madrid têm que gastar mais: 15,34%, 3,85% e 3,45% do valor do seu salário, respetivamente.

O transporte coletivo mais acessível em termos financeiros encontra-se em Zurique e Praga. Nestas cidades, o transporte público custa menos de 2% do salário médio, tendo o valor de 1,37% na Suíça e 1,83 na Chéquia. Os líderes inquestionáveis da nossa classificação são os já mencionados Luxemburgo e Tallinn. Quanto à capital estoniana, o transporte público para os cidadãos é gratuito já desde 2013.

Tarifas em Portugal

O transporte público em Portugal foi analisado em 8 cidades do país. Vila Nova de Gaia e Almada foram tomadas em conta como exemplos representativos de cidades-satélites do Porto e de Lisboa que constituem as maiores aglomerações de Portugal. A cidade que possui o transporte público mais caro é Funchal, na ilha da Madeira. O passe mensal para todos os autocarros da Horários de Funchal custa 35€.

Curiosamente, em 5 das 7 cidades analisadas (Lisboa, Porto, Coimbra e duas cidades-satélites, Vila Nova de Gaia e Almada) o passe mensal pode ser comprado pelo mesmo preço, que é 30€. No caso das cidades-satélites, são utilizados até os mesmos bilhetes que na área do Porto e Lisboa respetivamente, pois tanto os Transportes de Lisboa, como a SCTP no Porto operam dentro das suas aglomerações inteiras. Os habitantes de Braga vão pagar 26€ por um passe mensal vigente em 2 coroas da cidade.

O uso de transporte público é mais barato em Faro, onde um passe mensal custa 10,7€ para a 1ª coroa que abrange a maior parte da cidade.

Metodologia

A pesquisa foi feita com base nos preços de bilhetes simples e passes mensais encontrados em tarifários de operadores locais de transporte público para março de 2020. Os salários líquidos médios para as cidades tomadas em conta na classificação derivam de numbeo.com. Para a conversão de moeda usamos a taxa de câmbio média do Google Finance para fevereiro de 2020.

Os passes mensais em conta proporcionam deslocações ilimitadas em todos os meios de transporte dentro da cidade. Na comparação de bilhetes simples foi levado em consideração o preço mais vantajoso para o usuário, p.ex. um bilhete comprado no cartão do passageiro ou na aplicação móvel, mas sem contar o preço de cartões.

O estudo exclui cidades e aglomerações nas quais o mesmo meio de transporte é oferecido por diversos operadores com política de preços diferentes (Tóquio, Beijing, Jakarta, Banguecoque e outros).

A lista completa dos países e operadores incluídos na análise encontra-se aqui.

Fontes

• https://theconversation.com/traffic-congestion-reconsidered-111921
• https://www.telegraph.co.uk/travel/destinations/europe/articles/luxembourg-free-public-transport/
• https://www.theguardian.com/cities/2016/oct/11/tallinn-experiment-estonia-public-transport-free-cities

Uso público

Sinta-se à vontade para usar os dados e infográficos do presente relatório para ambos usos comercial e não comercial desde que indique o autor da pesquisa (Picodi.com) com o link para essa subpágina. Se tiver qualquer dúvida, não hesite em nos contatar: research@picodi.com.